Antes de tudo, uma breve contextualização.
Ian, 3 anos e meio, estudante da educação infantil. Quando não está na escola, está espalhado pelo chão de casa montando castelos, se aventurando com super-heróis, jogando bola ou andando de bicicleta. Adora livros e, agora, aprendendo o alfabeto, sai por aí soletrando tudo o que vê. Se opta por televisão, vai atrás de seus desenhos favoritos que são Patrulha Canina e a Casa do Mickey Mouse – ambos encontrados no Netflix. Por essa razão, Ian, praticamente, não assiste canais de TV por assinatura ou aberta.
Contexto
exposto, vamos lá...
Na
semana passada recebi o tão esperado “boletim bimestral” do rapaz, com um
senhor pente fino sobre seu desenvolvimento ao longo do referido período no
Infantil III. Num breve encontro com a professora regente, passei os olhos
rapidamente pelos temas que englobavam formação pessoal, social, emocional, psicomotricidade,
autonomia, etc. Tudo indo até muito bem e em concordância com o que já era
esperado para o Ian que conhecemos. Eis que na seção “Linguagem”, dou de cara
com o seguinte item “Realiza Leitura de Rótulos” e o conceito me deixa curiosa:
“ED” (em desenvolvimento).
Para
tudo!!!
Ian
tem três anos. Isso. TRÊS. Como é que já é esperado que ele faça a LEITURA de
qualquer coisa? Que ele soletre, reconheça as vogais e consoantes, que até
identifique seu próprio nome e os dos colegas na ficha atrás das cadeirinhas,
tudo bem. Mas... LER??? De fato??? Não fazia o menor sentido.
Fui
conversar com a “Tia” que não me deu lá uma justificativa plausível do que
viria a ser a tal “leitura de rótulos”, mas que fez questão de me informar que
Ian sabia, sim, o que era um creme dental. (Oi?!)
Não
satisfeita com a tentativa de elucidação, fui ter com a coordenadora que me
explicou que “leitura de rótulos” (que eu achava que era um gênero textual,
diga-se de passagem) nada mais era do que a habilidade em reconhecer aquele
conjunto visual de uma marca – as letras, as cores, o formato.
Hum...
Até aí, tudo bem. É experiência de mundo, exposição, variação, exploração das
possibilidades. Isso é importante para as crianças. Daí, ela me deu uma série
de exemplos, para explicar como o processo acontecia em classe:
-
a professora mostra um rótulo de Nescau e as crianças devem reconhecer que
aquela imagem, com aquele conjunto de letras e aquelas cores, representa aquele
achocolatado específico;
-
a professora apresenta o rótulo de um creme dental e trabalha as letras e sons
daquela palavra e fala sobre o produto;
E
por aí vai... Ela ficou lá me listando exemplos e eu pensando com os meus
botões: onde estava o “ED”?
Foi
aí que dois exemplos me deixaram invocada:
Exemplo
01: A fralda descartável!!!
-
a professora mostra o rótulo de Pampers e logo eles reconhecem que é Pampers, que
é de fralda descartável. Afinal, as crianças nessa idade assistem muita
televisão e sabem distinguir Pampers de Turma da Mônica facilmente.
Exemplo
02: O creme dental... (De novo!)
-
a professora mostra vários rótulos e as crianças têm de identificar se aquela
pasta é Kolynos, Colgate ou Even. Elas não têm de ler, LER. Elas têm de
reconhecer o rótulo pelo conjunto completo.
Fui
pra casa pensando nesses dois exemplos e em quão injusta a avaliação das
crianças da turma havia sido.
Recapitulando,
Ian praticamente não assiste propagandas, pois o Netflix supre as pouquíssimas
horas que ele passa em frente à telinha, portanto, estará sempre aquém no que
se refere a marcas em propagandas de TV.
E,
sobre o creme dental?
Citando
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, do MEC, “no que se
refere à avaliação formativa, deve-se ter em conta que não se trata de avaliar
a criança, mas sim as situações de aprendizagem que foram oferecidas. Isso
significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança deve
estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a
ela. Assim, pode-se esperar, por exemplo, que a criança identifique seus
colegas pelo nome apenas se foi dado a ela oportunidade para que pudesse
conhecer o nome de todos e pudesse perceber que isso, além de ser algo
importante e valorizado, tem uma função real.”
(http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf: acesso em 09/05/16)
(http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf: acesso em 09/05/16)
Se
aqui em casa, ele usa Tandy e os adultos utilizam Colgate, como será possível reconhecer
Even e Kolynos se estas não oferecem função real em sua vida (tal qual
expõe o referencial), além do que fora exposto num cartaz na sala de aula?
Dessa
forma, um adulto que não conhece Crest!, por exemplo, seria reprovado, então?
(Ah! Te peguei, né?! Rsrsrsrs!)
Prix. =)