Vez por outra, nos idos dos meus mais de vinte anos de sala de aula, me deparo com esse pensamento; sementinha plantada lá na época do Cambridge CELTA.
A pandemia impôs a alunos e
professores, dentre vários, um modelo educacional que os governantes estão chamando
de “híbrido”, eu prefiro chamar de síncrono – ensino híbrido é algo muito mais
complexo. Pois bem, neste modelo, temos alguns alunos em ambiente escolar e
alguns participando de forma remota. O professor fica na sala física e deve
atender às demandas tanto de quem está presencial quanto de quem está on-line.
Parece um programa de auditório com participação dos telespectadores ao vivo.
São muitas variáveis para equilibrar:
microfone, olho no chat, olho na câmera, monitorar os alunos do presencial, não
esquecer de envolver os do virtual. Não é fácil. Nem para o professor, nem para
ambos os alunos, do presencial e do remoto. Mas não é impossível.
Incomoda-me bastante aquele professor
que se esconde atrás da justificativa de que o “modelo híbrido (sic) não funciona,
pois não consigo controlar o que os meus alunos estão fazendo” e que justifica
a sua não habilidade em montar uma aula que atinja os objetivos conforme sua
clientela, responsabilizando um meio de comunicação. Abordagens, métodos, técnicas e recursos existem para serem aplicados aos vários cenários, conforme demanda e
contexto. Não existe esse negócio de “one size fits all”.
Planejar uma aula requer, além de
conhecimento sobre o objetivo de aprendizagem, conhecimento sobre os alunos.
Saber quem são, o que querem, porque estão ali, como aprendem e quais meios existem
para ajudar a incluí-los no processo são condição sine qua non de um bom
planejamento e, por consequência, de uma boa entrega de aula.
O professor que quer gerar aprendizado
planeja. Mil turmas que sejam, com o mesmo conteúdo, serão mil planos de aula
diferentes. Justamente porque ensinar não implica aprender, pois cada aluno é
único em seu processo. Sendo assim, cabe ao professor conhecer as possibilidades, desde os estilos de aprendizado individuais até as variações
de interação, e oferecer aos alunos as ferramentas necessárias para alcançar os
objetivos de aprendizagem sinalizados naquela aula.
Objetivos de aprendizagem por si só
não vão fazer os alunos aprenderem. Na verdade, o que vejo muito nas aulas, ultimamente, são objetivos de “ensinagem”. O professor lista vários itens que
gostaria de ensinar, acreditando que uma palestra genérica vai permitir que seu
dever seja cumprido.
Não ensinamos conteúdos, ensinamos a
alunos. Por isso, conhecer a audiência é mais importante do que saber manejar o
meio de interação. Por isso, não cabe ao professor julgar as condições de
participação dos alunos e, sim, encontrar maneiras de envolvê-los conforme seus
contextos. Por isso, fazemos mil planos, trocamos de técnicas, buscamos
novidades e estamos em constante atualização.
Ensinar não implica aprender. Envolver
os alunos e despertar neles o interesse, sim. Em tempos de pandemia, então,
planejar uma aula pode ser visto como um ato de empatia aos alunos, acolhendo-os em seus diversos contextos.